quinta-feira, 18 de abril de 2013

Sociolinguística

 A língua só existe por e através dos falantes que a usam.
 Isso parece ser algo um tanto quanto óbvio, no entanto, os estudos linguísticos até a pouco tempo atrás se centravam quase que exclusivamente no estudo da língua em si, do seu sistema, e não do seu uso.












Aqui já nos deparamos com duas vertentes dos estudos linguísticos: o formalismo e o funcionalismo.
O formalismo, de forma simplificada, busca estudar o sistema linguístico, e o funcionalismo busca entender como funciona cada elemento desse sistema.
Antes de Saussure instituir formalmente o objeto de estudo da Linguística, e a Linguística como a ciência da linguagem, os estudiosos dos fenômenos linguísticos se preocupavam, sobretudo, com a História das Línguas. Depois de Saussure, os estudos passaram a ser focados no estado atual da línguas. Esse foi sem dúvidas um grande avanço, no entanto, uma das famosas dicotomias saussureanas, a langue / parole, ou língua / fala dizia que a fala, por ser individual, não era interessante de ser estudada na Linguística.
Pronto, estava armado um palco para inúmeras discussões que viriam logo a seguir!

O próprio Saussure afirma em seu Curso de Linguística geral (o livro que formalizou a Linguística) que a língua é um objeto social, no entanto, ele diz que o importante era analisar o sistema linguístico em si, e não suas variações na fala individual. Mais tarde, Chomsky se preocupará em analisar também o sistema como um todo.
Labov estudou o inglês não-padrão falado por negros na cidade de Nova Iorque. Seu trabalho é de suma importância para a formalização dos estudos em Sociolinguística porque ele dá as diretrizes necessárias para esse tipo de pesquisa.
Antes de Labov lançar essa obra, que foi sua tese de doutoramento, alguns esforços já estavam sendo tomados para a criação dessa nova disciplina linguística que passou a ser reconhecida como tal a partir do Congresso Internacional de Linguística, em 1967, na Romênia e do Congresso Internacional de Sociologia, em 1970 na Bulgária.
Foi Labov também que começou por utilizar alguns termos que seriam de extrema importância para os estudos linguísticos em geral, como a noção de socioleto, que seriam os dialetos sociais e a noção de variabilidade e mudança linguística como fator inerente a todas as língua naturais. Assim, alguns termos passaram a fazer parte dos estudos linguísticos, como:

Variação diatópica: as variações que uma língua sofre quando muda de um espaço geográfico para outro. Ex.: português mineiro, português paulista...

Variação diacrônica: as variações e mudanças ocorridas na língua durante seu percurso histórico. Ex.: "vossa mercê" que se torna "você".

Variação diastrática: as variações que ocorrem em relação à classe social a qual pertence o falante, sua idade, gênero, nível de escolaridade, etc. Ex.: a pronúncia do R final nos verbos no infinitivo (amaR, comeR) é identificada na fala de pessoas mais idosas, e cada vez menos frequente na fala dos jovens de MG.

Variação diafásica: a variação que fazemos, intencionalmente, na língua quado o contexto assim o pede. Ex.: tratar um amigo por "você" e alguém mais velho por "senhor".

A noção de variabilidade e de mudança linguística é de suma importância para um combate eficaz do Preconceito Linguístico, que ocorre quando algum falante de uma variedade menos prestigiada sofre algum tipo de violência moral por ser utente daquela variedade.

Da década de 60 para cá, muito se tem feito no âmbito dos estudos sociolinguísticos e esses estudos influenciam de forma muito visível outras áreas da Linguística, o que não poderia deixar de ser, afinal, se a língua existe em prol da comunicação e interação entre os seres humanos, ela só existe na Sociedade, e dessa forma, para entendermos adequadamente como funciona a língua, devemos levar em conta o grupo social no qual ela está inserida.



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